sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dom João VI


Dom João VI, “O Clemente”, nasceu no palácio de Queluz, em Lisboa, Portugal, no dia 13 de maio de 1767. Seu nome completo era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael de Bragança.  Era filho da rainha dona Maria I e de Pedro III, que tinha o título de rei, mas não participava do governo. 

Não participava da política até que seu irmão mais velho, dom Miguel, faleceu de varíola no ano 1788, e ele se tornou herdeiro do trono português. No dia 1º de fevereiro de 1792 assumiu a regência portuguesa em virtude da doença mental de sua mãe, a rainha dona Maria I. Em 1799 casou-se com a princesa espanhola dona Carlota Joaquina, que tinha apenas dez anos de idade, com quem teve nove filhos.

Ele era tímido, medroso e supersticioso. Tinha medo de siris, caranguejos e trovões; não gostava de atividades físicas, festas e celebrações em geral. Sofria de depressão, e teve sua primeira crise em 1805, quando se isolou completamente da corte. Por causa disso, sua esposa dona Carlota tentou afastá-lo do poder para assumir a regência. Alertado pelo seu médico particular, Domingos Vandelli, dom João conseguiu evitar o golpe e a partir daí o casal passou a viver separado. Dom João foi residir no palácio de Mafra. 

Sempre cercado por padres, era muito religioso e assistia a missa todos os dias. De hábitos regulares, não gostava de mudanças e era desleixado com sua indumentária; repetia a mesma roupa todos os dias, até quando se rasgava, o que obrigava seus mordomos a costurá-la em seu corpo quando ele dormia. Gostava de usar uma vasta casaca sebosa de galões velhos, e sempre trazia nos bolsos alguns pedaços de frango assado para comer nos intervalos das refeições. Acredita-se que não tomava banho regularmente, ou tomava com água trazida do mar. 

Mesmo já casado com Carlota Joaquina, apaixonou-se por Eugênia José de Menezes, dama de honra de Carlota e filha de dom Rodrigo José Antônio de Menezes, primeiro conde de Cavaleiros, mordomo-mor de Carlota e futuro governador de Minas Gerais. Em maio de 1803 Eugênia ficou grávida, embora solteira, e a suspeita caiu sobre dom João. Comentava-se que os dois se encontravam com o auxílio de um padre e do médico João Francisco de Oliveira, físico-mor do Exército. 

Com a notícia da gravidez, o pai de Eugênia levou-a para a Espanha e a abandonou ao atravessar a fronteira, na cidade de Cadiz. Ela foi acolhida pelas freiras do convento de Conceição de Puerto de Santa Maria, onde sua filha nasceu. Depois se mudou para outros dois conventos e faleceu em um deles, na cidade de Portalegre, no dia 21 de janeiro de 1818. Há indícios também de que dom João teve um relacionamento homossexual com Francisco Rufino de Souza Lobato, um dos camareiros reais, que algum tempo depois recebeu o título de visconde de Vila Nova da Rainha. 

Muitas decisões políticas tomadas por dom João tinham o auxílio de 3 dos seus ministros: dom Rodrigo de Souza Coutinho, o conde de Linhares, encarregado das secretarias das Guerras e negócios Estrangeiros; Antônio de Araújo de Azevedo, o conde da Barca, ministro da Marinha (1814), e ministro de Negócios Estrangeiros e da Guerra (1816); Thomaz Antonio de Villanova Portugal, o conde da Palma, que exerceu os cargos de desembargador do Paço, ministro e secretário de Estado dos Negócios do Reino (1818) e ministro da Fazenda.       

Dom João fez um governo progressista e por algum tempo manteve o império português neutro nos conflitos entre a poderosa Inglaterra e a França de Napoleão Bonaparte. Em 1806, por causa do chamado “bloqueio continental” imposto pelo imperador francês Napoleão Bonaparte, Portugal tornou-se alvo principal dos inimigos. Sentindo que não poderia combater os franceses em seu próprio território, dom João resolveu transferir a sede da monarquia lusitana para o Brasil. 

No dia 29 de novembro de 1807 a esquadra da Família Real portuguesa saiu do Rio Tejo, em Lisboa, rumo à colônia, sendo escoltada por 19 navios ingleses, amigos de Portugal. A esquadra inglesa era composta de 8 naus, 4 fragatas, 4 brigues, 1 corveta e 2 escunas.

A comitiva de dom João compunha-se de 11500 a 15000 pessoas a bordo de cerca de 40 navios. O príncipe-regente viajou em navio separado do navio da sua esposa e suas filhas. Segundo alguns historiadores, a esquadra Real enfrentou grande tempestade perto da ilha da Madeira, no dia 8 de dezembro, que dispersou as naus que traziam a Família Real, e elas aportaram em Salvador, Bahia, às 16h00 do dia 22 de janeiro de 1808, mas o desembarque só se realizou às 17h00 do dia 26 de janeiro do mesmo ano, com a aclamação do povo baiano. 

No dia 28 de janeiro, ainda em Salvador, dom João VI fez seu primeiro decreto, quando abriu os portos brasileiros às nações amigas, o que ajudou a melhorar o comércio da colônia, que até então só podia negociar com Portugal. Depois, no dia 26 de fevereiro do mesmo ano, a esquadra Real seguiu viagem para o Rio de Janeiro, aonde chegou no dia 7 de março.

A partir daí o Brasil começou a receber os benefícios reais: dom João VI criou a Imprensa Régia, Academia de Belas Artes, Teatro Real, Jardim Botânico, Casa da Moeda, Banco do Brasil, Faculdade de Medicina, Academia Militar, Academia da Marinha e 1 casa de pólvora. 

Em 16 de dezembro de 1815 dom João VI criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, retirando do Brasil a condição de colônia e permitindo aos brasileiros os mesmos direitos dos portugueses. 
Por causa da guerra contra a França, dom João VI invadiu a Guiana Francesa, devolvendo-a depois da queda de Napoleão, em 1817. Também conquistou a colônia espanhola Banda Oriental, hoje Uruguai, anexando-a ao Brasil com o nome de Província Cisplatina. 

Dom João VI permaneceu no Brasil mesmo depois da prisão de Napoleão pelos ingleses na Ilha de Santa Helena, em 1815, e depois de se tornar rei de Portugal, com o falecimento de sua mãe, dona Maria I, ocorrido no dia 20 de março de 1816. 

Em 1820 ocorreu uma revolução em Portugal, onde os revolucionários tinham 3 objetivos: dar uma constituição ao reino, limitando os poderes do rei; exigir a volta imediata de dom João VI a Portugal e voltar o Brasil à antiga condição de colônia. 

Sem alternativas, dom João VI regressou a Portugal no dia 26 de abril de 1821. Imaginando que os brasileiros não aceitariam mais o retorno do Brasil à condição de colônia, deixou aqui seu filho, dom Pedro, com um conselho: “Pedro, se o Brasil se separar de Portugal, toma a coroa para ti, antes que algum aventureiro lance mão dela.” Pouco tempo depois, dom Pedro, seguindo o conselho do pai, proclamou a independência do Brasil, tornando-se seu primeiro imperador, com o título de dom Pedro I. 

Dom João VI só reconheceu a Independência do Brasil em 1825, depois que todas as nações do mundo já o tinham feito. Com essa atitude, recebeu uma indenização e o título de imperador do Brasil, mas esse título não lhe dava qualquer autoridade sobre os brasileiros. 

No dia 10 de março de 1826 saiu para um passeio de carruagem e no caminho parou para almoçar, tendo como guloseimas galinha assada na manteiga, um pedaço de queijo e algumas laranjas. Depois de algum tempo começou a vomitar e ter convulsões, e faleceu seis dias depois. O corpo do rei foi levado para o mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. As vísceras e o coração foram colocados em um pote de porcelana e enterrados no chão da Capela dos Meninos de Palhavã, no mesmo mosteiro. Em 1993, um arqueólogo encontrou o pote, num trabalho de restauração. Depois de analisar as vísceras, ficou comprovado que dom João morreu envenenado, como se suspeitou na época do seu falecimento.  

Bibliografia: 
CURSO de Estudos Sociais Integrado. 22ª ed. Tomo III, págs. 339 a 341. São Paulo, Michalany, 1980. 
ENCICLOPÉDIA de Educação Moral, Cívica e Política. Vol. II. São Paulo, Edi Ltda., 1971. 
ENCICLOPÉDIA Delta Larousse. Vol. II, págs. 1022 a 1027. Rio de Janeiro, Delta S.A., 1967.
GOMES, Laurentino. Que rei fui eu? Aventuras na História (edição de colecionador), 1(1): 30-35, mar. 2008.  

(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB - foto: internet)

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