segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Jubileu

Jubileu tem feito um trabalho bonito aqui em Taperoá (PB): incansável, carrega esse tonel d'água, de casa em casa, para quem quiser comprar, para suprir a falta de abastecimento d'água nas torneiras, nessa seca danada que a cidade e todo o nordeste brasileiro tem enfrentado nos últimos dois anos.

Essa água que Jubileu transporta vem de poços artesianos. Se não fosse esses poços para suprir a população, Taperoá estaria em estado de calamidade pública; isso também demonstra que o subsolo taperoaense é misericordioso, com um lençol freático abundante... Quem pode pagar dois, três mil reais, está perfurando poço artesiano em frente de casa; quem não pode, compra água de carros e jegues, como o de Jubileu, que me supre de forma bondosa e paciente, incansável.

Mas eu me preocupo com Jubileu, e pergunto sempre ao seu dono se ele tem alimentado e saciado a sede do heroico jegue. Positivo: Jubileu é bem tratado e amado pelo seu dono e pelo povo servido por ele.    

(Texto e foto: Eliza Ribeiro - Taperoá (PB) 

Jangada (Juvenal Galeno)

Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
Tu queres vento da terra,
Ou queres vento do mar?

Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
Aqui no meio das ondas,
Das verdes ondas do mar,
És como que pensativa,
Duvidosa a bordejar!


Saudades tens lá das praias,
Queres na areia encalhar?
Ou no meio do oceano
Apraz-te as ondas sulca?
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?

(Poesia: Juvenal Galeno - foto: internet)

Cajueiro pequenino (Juvenal Galeno)

Cajueiro pequenino,  
Carregadinho de flor,  
À sombra das tuas folhas  
Venho cantar meu amor,
Acompanhado somente
Da brisa pelo rumor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.
 
Tu és um sonho querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia... Me lembro...
Era uma aurora de abril,
Por entre verdes ervinhas
Nasceste todo gentil,
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.
 

Que prazer quando encontrei-te
Nascendo junto ao meu lar!
— Este é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar –
 

Bradei e logo cuidadoso,
Contente fui te alimpar,
Cajueiro pequenino,
Meu companheiro do lar.
 

Cresceste... Se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...
Tu que foste sempre enfermo
Aqui neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?
 

Cresceste... Crescemos ambos,
Nossa amizade também;
Eras tu o meu enlevo,
O meu afeto o teu bem;
Se tu sofrias... Eu, triste,
Chorava como... Ninguém!
Cajueiro pequenino,
Por mim sofrias também!
 

Quando em casa me batiam,
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas,
Pois não podias falar;
Mas no teu semblante, amigo,
Mostravas grande pesar,
Cajueiro pequenino,
Nas horas do meu penar!
 

Após as dores... Me vias
Brincando ledo e feliz
O-tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!
Depois cismando a teu lado
Em muito verso que fiz....
Cajueiro pequenino,
Me vias brincar feliz!
 

Mas um dia... Me ausentaram...
Fui obrigado... Parti!
Chorando beijei-te as folhas. . .
Quanta saudade senti!
Fui-me longe... Muitos anos
Ausente pensei em ti...
Cajueiro pequenino,
Quando obrigado parti!
 

Agora volto, e te encontro
Carregadinho de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...
Coitadinho, não cresceste
Por falta do meu amor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.

(Poesia: Juvenal Galeno - Foto: internet)

Xenônio

Símbolo: Xe
Massa atômica: 131,29  
Número atômico: 54
Ponto de fusão: 161,36 K (-111,79º)
Ponto de ebulição: 165,03 K (-108,12º)
Descoberta: Sir  William Ramsay e Morris W. Travers.
Origem do nome: Grega: Xénos
Significado: Estrangeiro.
Utilidades: Lâmpada ultravioleta, laser, ultravioleta, etc.

Características:
O xenônio é um gás nobre, inodoro, pesado e incolor.  Adquire incandescência azulada quando submetido a um campo elétrico de alta voltagem. 

(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB - foto: internet) 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Minha avó dizia...

Minha avó Inácia era muito católica, e, por isso, lia sobre a vida dos santos, embora fosse quase analfabeta. E hoje estou me lembrando de uma história que ela sempre me contava sobre Santo Antônio.

Ela disse que, depois que o pai de Santo Antônio morreu, ele sentia saudades dele, e em suas orações pedia a Deus um sinal sobre seu pai na eternidade, se estava bem ou não. Passou-se muito tempo, e sempre o santo pedindo um sinal, até que um dia ele teve um sonho, e viu apenas a língua do pai, queimando em fogo...

Daquele dia em diante Santo Antônio se arrependeu e nunca mais pediu sinais a Deus sobre seu pai, pois o que ele viu em sonho foi assustador...      


(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB - foto: internet)

sábado, 14 de dezembro de 2013

Bem-te-vi

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Tyrannidae
Gênero: Pitangus
Espécie: P. Sulphuratus
Nome binomial: Pitangus sulphuratus

Características:
É também conhecido por pituã, pitaguá ou puintanguá, triste-vida, bentevi, bem-te-vi verdadeiro, bem-te-vi coria, tiuí, teuí, tic-tiuí, e siririca, no caso das fêmeas. O índios brasileiros tupi-guaranis o chamavam de pitanga grande.

É de fácil adaptação, podendo ser encontrado em cidades, matas, e ambientes aquáticos como lagoas e rios. Típico da América latina, pode ser visto  nos seguintes países: Argentina, Colômbia, Paraguai, Guiana, Peru, Uruguai, Equador, Venezuela, Bolívia, Brasil, Ilhas Malvinas, Chile, Guiana Francesa, Geórgia do Sul, Guatemala, Belize, Costa Rica, Bermudas, Honduras, El Salvador, México, Sanduíche do Sul, Nicarágua, Suriname, Panamá e Trinidad e tobago.

Anda sozinho mas pode ser visto em três ou quatro indivíduos nas antenas de TV. Possui uma coloração parda no dorso, amarela viva na barriga, lista branca no alto da cabeça e cauda preta. Seu bico é preto, achatado, longo, resistente e pouco encurvado. Pesa até 60 gramas, mede de 22 a 25 cm de comprimento. Constrói seu ninho com pequenos ramos de vegetais em galhos de árvores bem cerradas. Nas cidades, o bem-te-vi pode usar papel, plástico e fios em seu ninho, que mede 25 cm de diâmetro. Geralmente o ninho fica no topo das árvores altas, mas pode construí-lo nas cidades em geradores de postes, cerca de 3 a 12 metros do solo.

Alimenta-se de insetos, frutas, como: banana, mamão, maçã, laranja, pitanga e outras, além de ovos de passarinho, flores de jardins, cobras, minhocas, lagartos, crustáceos, peixes, girinos de rios e lagos rasos, abelhas. É monogâmico, e o casal divide as tarefas, como a incubação dos ovos, 3 a 4 por ninhada, que medem 31x21 mm cada.  A incubação dura 17 dias, entre setembro e dezembro.      

(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá  PB - Foto e pesquisa: internet)

Dicionário - Como surgiu

Os assírios e babilônicos possuíam dicionários, que serviam para interpretar sinais, e chamavam-se Silabários, que explicavam os ideogramas. Os precursores dos dicionários foram os gregos, e o mais antigo dicionário que se tem notícia foi o de Apolônio de Alexandria, organizado no tempo do imperador Augusto, e contém um glossário das palavras usadas por Homero. 

Depois surgiram dicionários que explicavam expressões corruptas, vocábulos bárbaros, estrangeiros e dialetos, que serviam para a interpretação dos poetas trágicos e cômicos. 

Um dicionário famoso que chegou ao nosso tempo foi o “Onomástico”, de Júlio Pólux, em dez volumes, e o “Grande Léxico”, que foi perdido, escrito por Heládio de Alexandria, por volta do ano 400 a.C.. 

O primeiro dicionário em português, que se conhece, foi escrito pelo padre Rafael Bluteau, publicado em Lisboa no ano 1721, em dez volumes, intitulado “Vocabulário Português e Latino”. 

Bibliografia:
DICIONÁRIO Universal de Curiosidades, vol. 3, pág. 622. Comércio e importação de livros Cil S.A., São Paulo, 1968.        
(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB  foto: internet)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Meu nordeste, onde o bode é rei

Aqui, no nordeste brasileiro,
Compadre e comadre são do nosso terreiro,
A vizinhança toda come feijão na mesma panela
E depois vai pro forró na casa dela...

À noite o canto é da coruja, do bacurau e do quero-quero,
Quero mais xamego, quero mais xodó no rodopio do vento
Que invade meu coração e meu pensamento
Para alimentar meu amor e meu mistério...



À luz da Lua e das estrelas,
Do Cruzeiro do Sul e das Três Marias
Vou à casa de Estela,
De Joana, de Rosa e de Daguia...

Quando amanhece o dia, e o galo canta,
Quem quiser se espante, que não me espanta:
Ponho a moto para esquentar, e o bode já se ajeita,
Quer no reboque pelas ruas andar...

Eu mando no bode, e ele manda em mim,
Pois sustento ele traz para a família;
Com ele progrido meu dinheiro sem fim
E ele, satisfeito, segue minha trilha...

No meu roçado, no meu sertão dourado de Sol
Ele é quem reina, pois ele é o rei;
Sabe ele andar de moto, pedir comida, jogar futebol,
Sabe coisas que às vezes nem eu sei...    

(Poesia e foto: Eliza Ribeiro - Taperoá  PB)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Chove. Que fiz eu da vida? (Fernando Pessoa)

Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!
Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...

Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!
 
(Fernando Pessoa, 23-10-1931. Foto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB)


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Poema do milho (Cora Coralina)

Milho...
Punhado plantado nos quintais.
Talhões fechados pelas roças.
Entremeado nas lavouras,
Baliza marcante nas divisas.
Milho verde. Milho seco.
Bem granado, cor de ouro.
Alvo. Às vezes vareia,
- Espiga roxa, vermelha, salpintada.

Milho virado, maduro, onde o feijão enrama
Milho quebrado, debulhado
Na festa das colheitas anuais.

Bandeira de milho levada para os montes
Largada pelas roças:
Bandeiras esquecidas na fartura.
Respiga descuidada
Dos pássaros e dos bichos.

Milho empaiolado.
Abastança tranquila
Do rato,
Do caruncho,
Do cupim.
Palha de milho para o colchão.
Jogada pelos pastos.
Mascada pelo gado.
Trançada em fundos de cadeiras.

Queimada nas coivaras.
Leve mortalha de cigarros.
Balaio de milho trocado com o vizinho
No tempo da planta.
"- Não se planta, nos sítios, semente da mesma terra".

Ventos rondando, redemoinhando.
Ventos de outubro.

Tempo mudado. Revoo de saúva.
Trovão surdo, tropeiro.
Na vazante do brejo, no lameiro,
o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro.
Acauã de madrugada
Marcando o tempo, chamando chuva.
Roça nova encoivarada,
Começo de brotação.
Roça velha destocada.
Palhada batida, riscada de arado.
Barrufo de chuva.
Cheiro de terra; cheiro de mato,
Terra molhada, Terra saroia.
Noite chuvada, relampeada.
Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais.
Observatório: lua virada. Lua pendida...
Circo amarelo, distanciado,
Marcando chuva.
Calendário, astronomia do lavrador.

Planta de milho na lua-nova.
Sistema velho colonial.
Planta de enxada.
Seis grãos na cova,
Quatro na regra, dois de quebra.
Terra arrastada com o pé,
Pisada, incalcada, mode os bichos.

Lanceado certo-cabo-da-enxada...
Vai, vem... Sobe, desce...
Terra molhada, terra saroia...
Seis grãos na cova; quatro na regra, dois de quebra
Sobe. Desce...
Camisa de riscado, calça de mescla
Vai, vem...
Golpeando a terra, o plantador.

Na sombra da moita,
Na volta do toco - o ancorote d'água:

Cavador de milho, que está fazendo?
A que milênios vem você plantando.
Capanga de grãos dourados a tiracolo.
Crente da Terra, Sacerdote da terra.
Pai da terra.
Filho da terra.
Ascendente da terra.
Descendente da terra.
Ele, mesmo: terra.

Planta com fé religiosa.
Planta sozinho, silencioso.
Cava e planta.
Gestos pretéritos, imemoriais...
Oferta remota; patriarcal.
Liturgia milenária.
Ritual de paz.
Em qualquer parte da Terra
Um homem estará sempre plantando,
Recriando a Vida.
Recomeçando o Mundo.

Milho plantado; dormindo no chão, aconchegados
Seis grãos na cova.
Quatro na regra, dois de quebra.
Vida inerte que a terra vai multiplicar.

E vem a perseguição:
O bichinho anônimo que espia, pressente.
A formiga-cortadeira - quenquém.
A ratinha do chão, exploradeira.
A rosca vigilante na rodilha,
O passo-preto vagabundo, galhofeiro,
vaiando, sorrindo...
Aos gritos arrancando, mal aponta.
O cupim clandestino
Roendo, minando,
Só de ruindade.

E o milho realiza o milagre genético de nascer:
Germina. Vence os inimigos,
Aponta aos milhares.
- Seis grãos na cova.
- Quatro na regra, dois de quebra,
Um canudinho enrolado.
Amarelo-pálido,
frágil, dourado, se levanta.
Cria sustância.
Passa a verde.
Liberta-se. Enraíza,
Abre folhas espaldeiradas.
Encorpa. Encana. Disciplina,
Com os poderes de Deus.

Jesus e São João
desceram de noite na roça,
botaram a bênção no milho,
E veio com eles
Uma chuva maneira, criadeira, fininha,
Uma chuva velhinha,
De cabelos brancos,
Abençoando
A infância do milho.

O mato vem vindo junto,
Sementeira.

As pragas todas, conluiadas.
Carrapicho. Amargoso. Picão.
Marianinha. Caruru-de-espinho.
Pé-de-galinha. Colchão.
Alcança, não alcança.
Competição.
Pac... Pac... Pac...
A enxada canta.
Bota o mato abaixo.
Arrasta uma terrinha para o pé da planta.
"...- Carpa bem feita vale por duas..."
Quando pode. Quando não... Sarobeia.
Chega terra. O milho avoa.

Cresce na vista dos olhos.
Aumenta de dia. Pula de noite.
Verde Entonado, disciplinado, sadio.

Agora...
A lagarta da folha,
Lagarta rendeira...
Quem é que vê?
Faz a renda da folha no quieto da noite.
Dorme de dia no olho da planta,
Gorda; Barriguda. Cheia.
Expurgo: nada... Força da lua..,
Chovendo acaba - a Deus querê.

"O mio tá bonito..."
"-Vai sê bão o tempo pras lavoras todas."
"- O mio tá marcando..."
Condieionando o futuro:
"- O roçado de seu Féli tá qui fais gosto...
Um refrigério"
"- O mio lá tá verde qui chega a s'tar azur..."
- Conversam vizinhos e compadres.

Milho crescendo, garfando,
Esporando nas defesas...

Milho embandeirado.
Embalado pelo vento.

"Do chão ao pendão, 60 dias vão".

Passou aguaceiro, pé-de-vento.
"- O milho acamou..." "- Perdido?"... Nada...
Ele arriba com os poderes de Deus..."
E arribou mesmo; garboso, empertigado, vertical.

No cenário vegetal
Um engraçado boneco de frangalhos
Sobreleva, vigilante.
Alegria verde dos periquitos gritadores...
Bandos em sequência... Evolução...
Pouso... Retrocesso.

Manobras em conjunto.
Desfeita formação.
Roedores grazinando, se fartando,
Foliando, vaiando
Os ingênuos espantalhos.

"Jesus e São João
Andaram de noite passeando na lavoura
E botaram a bênção no milho".
Fala assim gente de roça e fala certo.
Pois não está lá na taipa do rancho
O quadro deles, passeando dentro dos trigais?
Analogias... Coerências.

Milho embandeirado
Bonecando em gestação.
- Senhor!... Como a roça cheira bem!
Flor de milho, travessa e festiva.
Flor feminina, esvoaçante, faceira.
Flor masculina - lúbrica, desgraciosa.

Bonecas de milho túrgidas,
Negaceando, se mostrando vaidosas.
Túnicas, sobretúnicas...
Saias, sobre-saias...
Anáguas... Camisas verdes.
Cabelos verdes...
- Cabeleiras soltas, lavadas, despenteadas...
- O milharal é desfile de beleza vegetal.

Cabeleiras vermelhas, bastas, onduladas.
Cabelos prateados, verde-gaio.
Cabelos roxos, lisos, encrespados.
Destrançados.
Cabelos compridos, curtos,
Queimados, despenteados.
Xampu de chuvas...
Flagrâncias novas no milharal.
- Senhor, como a roça cheira bem!...

As bandeiras altaneiras
Vão se abrindo em formação.
Pendões ao vento.
Extravasão da libido vegetal.
Procissão fálica, pagã.
Um sentido genésico domina o milharal.
Flor masculina erótica, libidinosa,
Polinizando, fecundando
A florada adolescente das bonecas:

Boneca de milho, vestida de palha...
Sete cenários defendem o grão
Gordas, esguias, delgadas; alongadas
Cheias, fecundadas.
Cabelos soltos excitantes.
Vestidas de palha.
Sete cenários defendem o grão,
Bonecas verdes, vestidas de noiva
Afrodisíacas, nupciais...

De permeio algumas virgens loucas...
Descuidadas. Desprovidas.
Espigas falhadas. Fanadas. Macheadas.

Cabelos verdes. Cabelos brancos.
Vermelho-amarelo-roxo, requeimado...
E o pólen dos pendões fertilizando...
Uma fragrância quente, sexual
Invade num espasmo o milharal.
A boneca fecundada vira espiga.
Amortece a grande exaltação.
Já não importam as verdes cabeleiras rebeladas
A espiga cheia salta da haste.
O pendão fálico vira ressecado, esmorecido,
No sagrado rito da fecundação.

Tons maduros de amarelo.
Tudo se volta para a terra-mãe.
O tronco seco é um suporte, agora,
Onde o feijão verde trança, enrama, enflora.

Montes de milho novo, esquecidos,
Marcando claros no verde que domina a roça.
Bandeiras perdidas na fartura das colheitas.
Bandeiras largadas, restolhadas.
E os bandos de passo-pretos galhofeiros
gritam e cantam na respiga das palhadas.

"Não andeis a respigar" - diz o preceito bíblico
O grão que cai é o direito da terra.
A espiga perdida - pertence às aves
Que têm seus ninhos e filhotes a cuidar.
Basta para ti, lavrador,
O monte alto e a tulha cheia.
Deixa a respiga para os que não plantam nem colhem
- O pobrezinho que passa.
- Os bichos da terra e os pássaros do céu.