quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Romance (Rimboud)


Não se pode ser sério aos dezessete anos.
 – Um dia, dá-se adeus ao chope e à limonada,
À bulha dos cafés de lustres suburbanos!
 – E vai-se sob a verde aleia de uma estrada.

O quente odor da tília a tarde quente invade!
Tão puro e doce é o ar, que a pálpebra arqueja;
De vozes prenhe, o vento – ao pé vê-se a cidade, –
Tem perfumes de vinha e cheiros de cerveja...  

Eis que então se percebe uma pequena tira
De azul escuro, em meio à romaria franca,
Picotada por uma estrela má, que expira
Em doce tremular, muito pequena e branca.

Noite estival! A idade! – A gente se inebria;
A seiva sobe em nós como um champanhe inquieto...
Divaga-se; e no lábio um beijo se anuncia,
A palpitar ali como um pequeno inseto...

O peito Robinsona em clima de romance,
Quando – na palidez da luz de um poste – vai
Passando uma gentil mocinha, mas no alcance
Do colarinho duro e assustador do pai...

E como está te achando imensamente alheio,
Fazendo estrepitar as pequenas botinas,
Ela se vira, alerta, em rápido meneio...
 – Em teus lábios então soluçam cavatinas...

Estás apaixonado. Até o mês de agosto.
Fisgado. – Ela com teus sonetos se diverte.
Os amigos se vão: és tipo de mau gosto.
 – Um dia a amada enfim se digna de escrever-te!...

Nesse dia, ah, meu Deus... – Com teus ares ufanos,
Regressas aos cafés, ao chope, à limonada...
 – Não se pode ser sério aos dezessete anos
Quando a tília perfuma as aleias da estrada.

(Poesia: Arthur Rimboud – Foto: Eliza Ribeiro – Taperoá – PB)
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário