sábado, 3 de novembro de 2012

O amor (Gal Costa)


Talvez, quem sabe, um dia,
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará,
Ela que também amava os animais,
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa.

Ela é tão bonita,
Ela é tão bonita
Que na certa eles a ressuscitarão.
O século trinta vencerá
O coração destroçado já pelas mesquinharias.

Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estrelar das noites inumeráveis.

Ressuscita-me,
Ainda que mais não seja
Porque sou poeta e ansiava o futuro.

Ressuscita-me,
Lutando contra as misérias do cotidiano;
Ressuscita-me por isso.

Ressuscita-me,
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida,
Para que não mais existam amores servis.

Ressuscita-me,
Para que ninguém mais tenha de sacrificar-se
Por uma casa, um buraco.

Ressuscita-me,
Para que a partir de hoje,
A partir de hoje a família se transforme
E o pai seja pelo menos o Universo
E a mãe seja no mínimo a Terra,
A Terra, a Terra.

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