quarta-feira, 25 de junho de 2014

É preciso não esquecer nada (Cecília Meireles)


É preciso não esquecer nada:
Nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
Nem o sorriso para os infelizes
Nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
Nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
O nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
A ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
Vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
Pois o resto não nos pertence.

(Poesia: Cecilia Meireles - Foto: Carlos Diniz - Rio de Janeiro - RJ.

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