sábado, 4 de janeiro de 2014

O galo e a pérola (Curvo Semedo)

Num monturo, engravatando,
Formoso galo aguerrido
Acha uma pérola fina
Qu'havia um nobre perdido.
Por três vezes a escoucinha
Sem nela querer pegar;
À quarta, erguendo-a no bico,
Se põe a cacarejar.
Vêm logo algumas galinhas
Cuidando qu'era algum grão;
Mas vendo a pérola, tristes
Vão-se, deixando-a no chão.

Acaso passa um ourives,
E, apanhando-a, alegre diz:
"É uma pérola fina!
Que belo achado que fiz!"
"Homem", lhe pergunta o galo,
"Tanto essa joia merece?
Pois eu, por um grão de milho
Te dera mil, se as tivesse".

Pérola em poder de galo,
Que lhe não sabe o valor,
É como entre as mãos dum néscio
As obras de um sábio autor.  

(Poesia: Curvo Semedo - Foto: internet) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário