domingo, 24 de agosto de 2014

Se não fossem os nordestinos...


Fico imaginando as dores que a gente passa na vida,
O corre-corre do dia até ao anoitecer;
É o feijão para plantar e colher,
A batata-doce para arrancar do chão,
E, à noite, sem descansar, tocar violão,
Pois a Lua nordestina nos traz a poesia ao coração...

Lá do mato a gente escuta a coruja piar,
A raposa invadir o galinheiro; 
O cachorro latindo lá no quintal
Tira o sossego da gente,
E lá vem uma estrela cadente rasgando o céu,
Fazendo a gente pedir uma prece a ela, em nome de Nosso Senhor...

Às vezes a gente se lamenta e diz: vou embora daqui, eu vou;
Mas ao mesmo tempo olha o céu azul, 
O Sol amarelinho reinando na terra espinhenta;
E aí a gente diz: somente aqui eu sou feliz!
E lembra os amigos de infância que se danaram no mundo
Para vencer na vida, ter um carro e um sotaque mais admirado,
Pois o oxente, coitado, já diz que a gente é sofredor...

Lá em outras terras os amigos levantam arranha-céus,
Comem carne três vezes ao dia, alface, couve-flor;
De noite dormem com as buzinas dos carros e motos zoando a madrugada,
Como se fossem casacas-de-couro em noites enluaradas dormindo mal... 
E os amigos se espalham por todos os recantos do Brasil,
Construindo estradas, pontes, arranha-céus que jamais serão seus,
E ainda sofrem perseguições,
Pois os nordestinos são tidos como preguiçosos e analfabetos!
Mas, ai, Deus do céu,
O que seria do Brasil se não fossem os nordestinos
Que se enfileiram em fábricas, batem cartão de ponto,
Varrem as ruas dos grandes centros urbanos,
Gritam nas feiras livres para chamar o freguês,
Nas padarias, fabricam o pão francês...
Há, se não fossem os nordestinos,
O que seria do nosso País?

(Poesia e foto: Bete Diniz - Taperoá - PB)

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