Joaquim José da Silva Xavier nasceu no ano 1746, no sítio Pombal, de propriedade do seu pai, em São João D’El-Rei, Minas Gerais. Era filho do português Domingos da Silva dos Santos e da brasileira Antônia da Encarnação Xavier. Seu pai foi almotacé e vereador da câmara da Vila de São José, hoje cidade de Tiradentes, nos anos 1755 e 1756.
Tiradentes frequentou a escola em São João D’El-Rei e recebeu algumas instruções do seu irmão, o padre Domingos da Silva Xavier. Ficou órfão de mãe em 1755 e de pai entre os anos 1757 ou 1761. Foi então criado pelo seu padrinho, o cirurgião Sebastião Ferreira Leitão, que talvez tenha lhe ensinado o ofício de dentista e protético, profissão que exerceu muito bem e que lhe causou o apelido de Tiradentes. Exerceu várias outras profissões, como: tropeiro, mascate, tinha alguns conhecimentos de hidráulica e mineralogia, no que foi bem aproveitado quando se tornou alferes no Regimento de Cavalaria Regular de Vila Rica, hoje Ouro Preto, no ano 1780.
De espírito empreendedor, vivia infeliz com sua situação financeira, pois sempre lhe negavam promoções. Embora fosse feio, de olhos esbugalhados, e desprezado pelos poderosos, era um homem culto para seu tempo, pois tinha noções de inglês e francês, escrevia corretamente e era bem informado sobre a política europeia, especialmente a Independência dos Estados Unidos.
Foi nomeado, em 1781, comandante da Patrulha do Caminho Novo, estrada que ligava Minas Gerais ao
Rio de Janeiro, por causa do seu conhecimento em mineralogia. A partir daí, viajando por aquela estrada, revoltou-se com os abusos cometidos pelo governo português contra o povo humilde, durante o governo de Cunha de Menezes.
No dia 2 de março de 1787 pediu licença do seu cargo e viajou para o Rio de Janeiro com o intuito de conseguir apoio para projetos de canalização das águas dos rios Andaraí e do Maracanã para o centro da cidade, da construção de um trapiche e de um embarcadouro para o gado. Enquanto esperava o despacho para os seus requerimentos, trabalhou como dentista até o ano 1788. Dois dias antes de voltar a Minas Gerais, ele soube da chegada do Dr. José Álvares Maciel, filho do capitão-mor de Vila Rica, vindo da Europa, onde se formara em filosofia e história natural em Coimbra, e passara mais de um ano na Inglaterra estudando química e manufaturas do país. Tiradentes foi então procurá-lo com o intuito de conseguir patrocínio para seus projetos. A conversa entre eles foi em torno de notícias da Europa e da opinião dos países europeus de que o Brasil não se aventurava a separar-se de Portugal, como fez os Estados Unidos, separando-se da Inglaterra, embora o Brasil tivesse muitas riquezas.
Essa conversa animou Tiradentes a idealizar um levante. Outros encontros com Maciel fizeram com que ele organizasse um plano de independência, juntamente com algumas pessoas influentes. De volta a Minas Gerais, conquistou o apoio do tenente-coronel Francisco de Paula Freire Andrada, que controlava a tropa do Regimento de Cavalaria Regular, onde Tiradentes era alferes. A primeira reunião aconteceu em fins de dezembro de 1788 e contava com a participação do tenente-coronel Francisco de Paula, que cedeu a casa, Tiradentes, Maciel e o padre Carlos Correia de Toledo e Melo, vigário de São João D’El-Rei.
Houve outras reuniões com mais participantes, para o planejamento da conspiração. O início do levante se daria por ocasião da “Derrama”. Tiradentes, que chamou para si a parte mais arriscada, acordaria a população com a frase “Viva a liberdade!”; o tenente-coronel Francisco de Paula, com o seu regimento, tomaria conta da situação, sob pretexto de manter a ordem. Depois, Tiradentes partiria para Cachoeira, residência do governador, e prenderia o Visconde de Barbacena.
Tiradentes fazia propaganda dos seus intentos às pessoas que estavam descontentes com a administração portuguesa, e foi assim que a notícia do levante chegou ao conhecimento do coronel Silvério dos Reis, através do sargento-mor Luís Vaz de Toledo Piza, irmão do padre Correia. O coronel Silvério dos Reis resolveu então denunciar os inconfidentes ao Visconde de Barbacena, na esperança de conseguir perdão de grandes dívidas junto à Fazenda Real, o que realmente aconteceu. Essa denúncia ocorreu no dia 15 de março de 1789. Outras denúncias foram feitas pelo tenente-coronel Basílio de Brito e o mestre-de-campo Inácio correia Pamplona.
Diante desses fatos, o Visconde de Barbacena suspendeu a “Derrama” e mandou que Silvério dos Reis fosse ao Rio de Janeiro avisar o vice-rei, dom Luiz de Vasconcelos de Souza, e seguir Tiradentes, que se encontrava no Rio de Janeiro desde o dia 10 de março de 1789, a fim de saber a resposta dos seus requerimentos sobre seus projetos de canalização dos rios. Sentindo-se vigiado, Tiradentes se refugiou na residência do torneiro Domingos Fernandes Cruz, na Rua dos Latoeiros, no dia 6 de maio. Foi preso no dia 10 de maio do mesmo ano pelo alferes Francisco Pereira Vidigal, acompanhado do sargento José Lopes da Costa e de alguns soldados.
Além da sua prisão no Rio de Janeiro, houve a prisão em Minas Gerais dos outros conspiradores. Entre os presos havia pessoas influentes na sociedade da capitania, como o desembargador Tomás Antônio Gonzaga, o Dr. Cláudio Manuel da Costa, o cônsul Luís Vieira da Silva, o Dr. Domingos Vidal Barbosa, Álvares Peixoto, Francisco de Paula e os padres Correia e Rollim. Cláudio Manuel da Costa enforcou-se na prisão de Vila Rica. Os outros foram mandados para o Rio de Janeiro.
Tiradentes foi levado para a fortaleza da Ilha das Cobras, sendo interrogado nos dias 22, 27 e 30 de maio de 1789, sempre negando a existência da conspiração. O quarto interrogatório só foi feito no dia 18 de janeiro de 1790, depois de se terem ouvido mais de cem testemunhas. Quase todos os conjurados presos negaram seus envolvimentos, jogando toda a culpa em Tiradentes que, diante dos fatos, acabou assumindo toda a responsabilidade durante todos os outros nove interrogatórios a que foi submetido entre os dias 15 de abril e 15 de julho de 1791.
A sentença foi proferida no dia 18 de abril de 1792 e confirmada dois dias depois. Alguns dos conjurados foram condenados ao degredo perpétuo; outros, como Tomás Antônio Gonzaga e Vidal Barbosa, foram condenados ao degredo temporário. A sentença dos sacerdotes permaneceu secreta, mas foram enviados para Lisboa, onde ficaram quatro anos presos na fortaleza de São Luís e depois internados em conventos.
A sentença de Tiradentes foi: condenação à forca, depois decapitado e esquartejado, e seus restos mortais seriam expostos em vários lugares. Foi ainda declarado infame, assim como seus filhos e netos; seus bens seriam confiscados e sua casa em Vila Rica derrubada e o terreno salgado, para não serem erguidas quaisquer construções.
No dia 21 de abril de 1792, num sábado, Tiradentes saiu do edifício da cadeia velha, onde estava preso, entre as oito e nove horas da manhã, rumo ao patíbulo armado no Campo São Domingos. Subindo ao local da forca, foi feita uma alocução pelo Frei José Jesus Maria do Desterro, guardião do convento de Santo Antônio, onde todos rezaram o terço, inclusive o condenado. Ao meio-dia foi enforcado pelo algoz Preto Capitania. Depois, foi-lhe cortada a cabeça, e o corpo dividido em quatro partes que, depois de salgados, foram colocados em altos postes na Estrada de Minas. Sua cabeça chegou a Vila Rica no dia 20 de maio, sendo exposta entre festividades oficiais, num poste de iluminação pública, no centro da Praça Pública, em frente do Palácio dos Governadores, de onde desapareceu em novembro do mesmo ano, numa noite de temporal.
Bibliografia:
AB’SABER, Aziz N. Introdução geral: Holanda, Sérgio Buarque de. A época colonial. Vol. 2. Administração, economia, sociedade. Rio de Janeiro, Bertrand, 2000.
ENCICLOPÉDIA Brasileira Globo. 13ª ed. Vol. XI. Porto Alegre, Globo, 1974.
ENCICLOPÉDIA de Educação Moral, Cívica e Política. Vol. IV. São Paulo, Michalany, 1971.
(Texto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB - foto: internet)
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