Durante esse período de nove anos - desde os 19 até os 28 - fui seduzido e sedutor, enganado e enganador, de acordo com a diversidade de minhas paixões; publicamente, por meio daquelas doutrinas que se chamam liberais; ocultamente, com o falso nome de religião, mostrando-me aqui soberbo, ali supersticioso, e em toda parte vaidoso. De um lado, perseguindo a aura da glória popular até os aplausos do teatro, os certames poéticos, os torneios de coroas de feno, as bagatelas de espetáculos e a intemperança da concupiscência; por outro lado, desejando muito purificar-me dessas imundícies, levando alimento aos chamados eleitos e santos, para que na oficina de seu estômago fabricassem anjos e deuses que me libertassem. Tais coisas seguia eu e praticava com meus amigos, iludidos comigo e por mim.
Riam-se de mim os arrogantes, e que ainda não foram prostrados e salutarmente esmagados por Ti, meu Deus; mas eu, pelo contrário, hei de confessar diante de Ti minhas torpezas para Teu louvor. Permite-me, Te suplico, e concede-me que me lembre fielmente dos desvios passados de meu erro, e que eu Te sacrifique uma hóstia de louvor.
Porque, sem ti, que sou eu para mim mesmo, senão um guia que conduz ao precipício? Ou que sou eu, quando tudo me corre bem, senão uma criança que mama Teu leite, e que se alimenta de Ti, alimento incorruptível? E que é o homem, seja quem for, se é homem?
Riam-se de nós os fortes e poderosos, que nós, débeis e pobres, confessaremos Teu santo nome.
(Texto: Confissões - Santo Agostinho - Editora Saraiva de bolso, Rio de Janeiro, 2012 - foto: internet)
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