quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Cinto cruzado: Letra - Música de Clara Nunes

Mandacaru é vermelho como o Sol do sertão
Cacimba seca é o espelho, pega fogo no chão,
Sem água o gado se perde;
O que mata o boi mata o verde: é sede.

Barriga grande de filho é barro, é bicho, é inchação,
Que o fim do magro novilho é o bico do gavião,
Sem mato o gado não come;
O que mata o boi, mata o “home”: é fome.

Eh! Vida de cão! Trabalha e nunca tem nada não.
Danação! Arrancando o couro pro patrão
Pros “feitor” e pros “macaco” só pedindo proteção
A Corisco, a Ventania, a Vorta-seca, a Lampião;
Aí que eles vão ver como se dança o baião.

Bota o cristão de joelho pra sangrar o coração
E sai o facão vermelho igual luar do sertão
Pros “coroné” só o cangaço,
No parabelo ou no braço ou no aço
Ou segue enxada no agreste ou pedra na construção;
Sina de pobre é má sorte,
Paz de caboclo do norte é morte,
É só provação,
É dono de engenho e capitão,
Perdição,
Na fé no “padim Ciço Romão”.

Vou botar cinto cruzado, peixeira, chapéu, gibão,
Acender nome de guerra no pavio de Lampião;
Aí que eles vão ver como se dança o baião.

Mandacaru é vermelho...

Canta: Clara Nunes – Autores: Guinga/Paulo César Pinheiro
Disco: Nação – 1982
EMI-Odeon – 062 421236

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