Nem a dos homens amada;
Nem a que sonhava o artista
Em cujas mãos fui formada.
Talvez em pensar que exista
Vá sendo eu mesma enganada.
Quando o tempo em seu abraço
Quebra meu corpo, e tem pena,
Quanto mais me despedaço,
Mais fico inteira e serena.
Por meu dom divino, faço
Tudo a que Deus me condena.
Da virtude de estar quieta
Componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
Perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
E a seta, - em cada momento.
Não digas aos que encontrares
Que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
Desenho certo de rua?
E de teres visto luares,
Que ousarás contar da Lua?
Bibliografia:
Meireles, Cecília: Flor de Poemas - coleção Poiesis - 9ª edição - pág. 131 - Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro - 1983.
Foto: internet
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