Meu irmão Marcos, paraibano de nascença e piauiense de coração, mora em Teresina desde a década de 80 do século passado, mas duas vezes por ano visita a família em Taperoá, Paraíba. Isto é um fato normal.
Surpreendente foi o que ele fez na visita do último fim de ano. Com toda a linda família que possui, chegou como sempre faz: de surpresa, à noitinha, depois de passar um dia inteiro na estrada, cortando o nordeste pelos seus sertões.
Como sempre, ele e a família nos cumprimentaram e logo começaram a tirar as bagagens do carro. De cara eu percebi que daquela vez havia algo diferente, que eu não sabia o que era; sei que estava sentindo um cheiro diferente, fortíssimo, que imediatamente invadiu a casa.
Aquele cheiro me incomodou, por ser muito forte, e eu comecei a enjoar. Quieta fiquei, até que minha cunhada trouxe à cozinha uns frutos estranhos e disse-me: "Conhece o pequi?" Eu disse que não, sorrindo, mas estava me sentindo enjoada, pois sou careta em relação às frutas; jaca, por exemplo, não suporto nem o cheiro, até me arrepia somente em pensar nela.
O fato é que fui apresentada a um dos frutos mais saboreados do cerrado brasileiro, e de forma até deselegante, da minha parte. Meu irmão entrou na conversa, orgulhoso por mostrar-me que se sentia um piauiense da gema ao consumir deliciosamente aquele pequizinho.
Enquanto o pequi cozinhava, a conversa rolava alegre na cozinha, com meu irmão e meus sobrinhos contando as novidades para mim e minha mãe. Meu irmão de vez em quando me dizia: "Tu vais ver como o pequi é gostoso, tu vais comer um bocado". Eu sorria, escondendo o enjoo do cheiro inebriante que dominava o ambiente.
Depois de um tempo, minha mãe me chamou num canto e me disse: "Não estou suportando esse cheiro; não vou comer isso não!" Eu lhe disse: "Calma, ma eu também não estou suportando!" Depois de um tempo o tal do pequi ficou pronto. Meu irmão pegou um e me deu, me ensinando como saboreá-lo, pois dentro dele havia espinhos e eu podia me machucar. Peguei então o danado, enjoada, mas ao invés de mordê-lo, eu apenas lambi um pouco, rapidamente, e tive de ser sincera com o orgulhoso piauiense: "Não consigo comer isso, não estou suportando nem o cheiro". Ele, humilde, me disse: "Está bem, isso é só falta de costume. Já lambeu, sentiu o gosto; amanhã você prova novamente até se acostumar. Na primeira vez que vi esse danado também achei estranho, mas agora, está vendo? Ele então pegou um fruto e começou a comê-lo de um jeito tão saboroso que me causou inveja e remorso. Inveja por vê-lo comer o pequi de um jeito guloso, mesmo, e remorso, por decepcionar meu irmão e sua família.
Além de tudo tive de agir rápido para me sentir melhor: enquanto meu irmão e sua família comiam o pequi, eu juntei as cascas e qualquer vestígio daquele bendito fruto, coloquei num saco de lixo e fui jogá-lo na lata de lixo da rua, longe de minha casa. Os frutos cozidos coloquei na geladeira, antes mesmo deles acabarem o banquete. Pensei: "Se quiserem mais, que peguem na geladeira, mas não vou deixar esse cheiro invadir minha casa". No outro dia, depois do café da manhã, peguei o restante dos pequis e fui jogá-los no lixo da rua. Eu e minha mãe ficamos aliviadas, e minhas visitas não falaram mais do digníssimo fruto, orgulho do cerrado brasileiro.
(Texto: Eliza Ribeiro - Foto: internet)
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