Se muito sofri já, se ainda sofro
Por teu amor?!
Não me perguntes! Que do inferno a vida
Não é pior! ...
Eu! Vegetar da terra entre os felizes!
Que faço aqui?
Sonhos de amor, de glória, — lá se foram
Atrás de ti!
A ver se encontro d'esperança um raio
Olho em redor,
E nada vejo, e mais profunda sinto
No peito a dor!
Que faço aqui? Dias cansados, anos
Sem fim — durar!
Depois que te perdi, viver ainda,
Viver! Penar! ...
Eu, não! Quem for feliz que preze a vida,
Tema perdê-la!
Por mim não tenho horror, nem tédio à morte,
Clamo por ela!
Bendita seja pois a que mandada
Me for — por Deus.
Matar-me, não; que quero ver-te ainda
Feliz nos céus!
Mas no pego da dor, em que me abismo?
— Nesta aflição
Negra como a do cego que na estrada
Esmola o pão!
Como a do viajor que pelas trevas
Sem tino vai,
E, errado o trilho, se embrenhou nas matas,
Nem delas sai!
Neste viver sofrendo, errante, louco,
Mísero Jó,
Que amigos e inimigos à porfia
Pungem sem dó!
Às vezes, da amargura no remanso,
Ao Criador
Minha alma eleva cânticos de graças,
Hinos de amor!
Que se estivesse em mim renascer hoje,
Sofrer o que sofri...
Eu quisera viver para ainda amar-te
E amado ser por ti!
(Poesia: Gonçalves Dias - Manaus - 16 de junho de 1861.
Foto: Carlos Diniz - Rio de Janeiro - RJ)
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