Irmão,
Nada é eterno, nada sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.
A nossa vida
Não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
Não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
De cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
Mas aquele que a leva
Não deve chorá-la sempre...
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
Chegará um silêncio absoluto,
E, então, a música será perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
Para afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu jogo
Para beber o sofrimento
E subir ao céu das lágrimas ...
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
Apanhemos, no ar, as nossas flores,
Não no-las arrebate o vento que passa.
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
Roubando beijos que murchariam
Se os esquecêssemos.
É ânsia a nossa vida
E força o nosso desejo,
Porque o tempo toca a finados.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
Parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,
Com os sonhos debaixo do manto.
A vida, infindável para o trabalho
E para o fastio,
Dá-nos apenas um dia para o amor.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
Sabe-nos bem a beleza
Porque a sua dança volúvel
É o ritmo das nossas vidas.
Gostamos da sabedoria
Porque não temos sempre de a acabar.
No eterno tudo está feito e concluído,
Mas as flores da ilusão terrena
São eternamente frescas,
Por causa da morte.
Irmão, recorda isto, e alegra-te.
(Poesia: Tagore - foto: Carlos Diniz - rio de Janeiro - RJ)
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