sexta-feira, 9 de maio de 2014
O cavalo (Lêdo Ivo)
No campo matinal
Um cavalo assediado
Pelo zumbir das moscas
Mastiga avidamente,
O capim do universo.
Os insetos volteiam
No anel azul do mundo
- Esfera sem passado
Nos ares momentâneos.
Não há mitologia
Espalhada na relva
Que é verde, sem caminhos,
Longe das longes terras.
E o cavalo sobrado
Da inenarrável guerra
E da paz defendida
À sombra das espadas
Mata a fome no campo
Onde não jazem mortos
Nem retroam clarins.
Sua crina estremece.
E seus cascos escarvam
A plácida planície
Coberta pelos pássaros.
Já sem fome, relincha
Para os céus que não guardam
As fanfarras e flâmulas
E a fumaça da História,
E se muda em estátua.
(Poesia: Lêdo Ivo - Foto: Eliza Ribeiro - Taperoá - PB)
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