Eu não sou daqui, não sou;
Eu sou de lá!
Eu não sou daqui, não sou;
Eu sou de lá!
A Lua cheia, a Lua cheia,
Quando bate nas aldeias,
A menina das candeias cirandeia ao luar.
O seu lamento tem um jeito de acalanto
Que o rio, feito um pranto,
Vai levando para o mar.
Meu coração é feito de pedra de ouro,
O meu peito é um tesouro que ninguém pode pegar.
Eu não sou, eu não sou daqui, não sou;
Eu sou de lá!
Eu não sou daqui, não sou;
Eu sou de lá!
A noite ficou mais faceira,
Pois dentro da ribeira apareceu,
Com suas prendas e bordados,
Seus cabelos tão dourados,
Que o Sol não conheceu.
A menina-moça debutante,
Que namora pelas fontes que a natureza lhe deu,
É Oxum, ê Oxum, ê Oxum, senhora das candeias!
Que tristeza que me dá
Saber que suas mãos são tão pequenas
Pra matar quem envenena ,
Pra punir quem faz o mal.
Cegar punhal, cegar punhal que fere tanto,
Pra mostrar que seu encanto é uma coisa natural.
(Clara Nunes — Autores: Toninho/ Romildo Bastos)
Disco: As forças da natureza" — 1977 — EMI-ODEON — XSMOFB 3946.
Foto: internet.