domingo, 13 de julho de 2014

A cantiga (Adélia Prado)


"Ai, cigana, ciganinha,
Ciganinha meu amor".
Quando escutei essa cantiga
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado
continua tinindo, esganiçada, linda,
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal, 
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,
canta que eu acho minha vida.

(Poesia: A cantiga - Adélia Prado - A bagagem, Record, Rio de Janeiro, 2012. Foto: Bete Diniz - Taperoá - PB) 

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