sábado, 28 de junho de 2014
Maçarico (Elizabeth Bishop)
Já nem percebe o rugido constante a seu lado,
Nem se espanta que de vez em quando o mundo estremeça.
Ele corre, corre para o sul, luxento, desajeitado,
Sempre num pânico controlado, um discípulo de Blake.
A praia chia como se fosse gordura.
Um lençol d'água vem e vai, e nesse espaço
Interrompido passam seus pés frágeis e escuros.
Ele corre, atravessando tudo, corre olhando para baixo.
- Mais exatamente, para os espaços de areia entre os pés,
Onde (todo detalhe é importante) o Atlântico escorre
Para trás e para baixo, rápido, vez após vez.
Ele observa os grãos arrastados enquanto corre.
O mundo é bruma. E logo o mundo vira
Um panorama imenso e detalhado.
Maré alta ou baixa - ele nem desconfia.
Seu bico fica imóvel; está concentrado,
Procurando alguma coisa, alguma coisa.
Pobre ave, com sua ideia fixa!
Os grãos de areia são milhões, pretos, brancos, âmbar, cobre,
Junto com grãos de quartzo, rosa e ametista.
(Poesia: Elizabeth Bishop - foto: internet)
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