Todo dia à tardinha lá vinha o bêbado pela rua, cambaleando de uma extremidade à outra, cai e não cai. Minha amiga, moradora da rua, todo dia o via passar assim: cai e não cai... Acabaram ficando amigos: quando ele passava, ela dizia: "Já vai pra casa?" Ele sempre respondia, todo sorridente: "Já; hoje bebi muito".
Certo dia eu mesma o vi passar, cambaleando, a caminho de sua casa. Com medo de que ele caísse de forma grave, gritei para o empregado de um armazém que também passava por perto: "Ei, moço, segura esse senhor, senão ele vai cair! Leve-o em casa!" O pobre bêbado sorriu, olhou para mim e me disse: "Tô bebim..." Eu lhe disse: "Está mesmo!" O empregado do armazém correu, segurou no braço do senhor, e o levou em casa, senão ele poderia sofrer grave queda, tão bêbado que estava, incapaz de dar um passo...
Depois daquele dia o bêbado deixou de passar naquela rua; por vários dias ninguém o viu, e minha amiga ficou preocupada, pensando que talvez ele estivesse doente. Num certo dia, porém, a mulher dele passou, e minha amiga perguntou-lhe: "Seu marido está onde, que nunca mais passou por aqui? Ela franziu a testa, olhou com cara de brava para minha amiga, e disse-lhe: "Está em casa! O que você quer com ele?" Ela lhe respondeu: "Nada! Apenas ele deixou de passar por aqui e eu fiquei preocupada, pensando que estivesse doente". Ela: "Não está doente, não; só está em casa, hum"!
Daquele dia, por vários dias, a mulher do bêbado passou a frequentar a rua da minha amiga, sempre de cara amarrada, como se estivesse com ciúme dele e investigando algo. Alguns dias depois ela sumiu, e o bêbado voltou à sua rotina, passando à tardinha, completamente tonto, em frente à casa da minha amiga, sempre com um riso no rosto e cumprimentando-a: "Oi, tudo bem? Tô bebim!" Ela: "Tudo bem... Cuidado pra não cair!"
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