terça-feira, 13 de novembro de 2012

Gita (Raul Seixas)


- Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou:

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.

Você pensa em mim toda hora;
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.

Eu sou a luz das estrelas,
Eu sou a cor do luar,
Eu sou as coisas da vida,
Eu sou o medo de amar.

Eu sou o medo do fraco,
A força da imaginação,
O blefe do jogador,
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício,
A placa de contra-mão,
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.

Eu sou a vela que acende,
Eu sou a luz que se apaga,
Eu sou a beira do abismo,
Eu sou o tudo e o nada.

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!

Você me tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.

Das telhas eu sou o telhado,
A pesca do pescador,
A letra "A" tem meu nome,
Dos sonhos eu sou o amor.

Eu sou a dona de casa
Nos pegue-pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco,
Sou raso, largo, profundo.

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.

Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô,
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.

Gita: Raul Seixas/Paulo Coelho


Nenhum comentário:

Postar um comentário