Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado,
Não falo de amor quase nada,
Nem fico sorrindo ao teu lado.
Você pensa em mim toda hora;
Me come, me cospe, me deixa.
Talvez você não entenda,
Mas hoje eu vou lhe mostrar.
Eu sou a luz das estrelas,
Eu sou a cor do luar,
Eu sou as coisas da vida,
Eu sou o medo de amar.
Eu sou o medo do fraco,
A força da imaginação,
O blefe do jogador,
Eu sou!... Eu fui!... Eu vou!...
Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou o seu sacrifício,
A placa de contra-mão,
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição.
Eu sou a vela que acende,
Eu sou a luz que se apaga,
Eu sou a beira do abismo,
Eu sou o tudo e o nada.
Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água e do ar!
Você me tem todo dia,
Mas não sabe se é bom ou ruim.
Mas saiba que eu estou em você,
Mas você não está em mim.
Das telhas eu sou o telhado,
A pesca do pescador,
A letra "A" tem meu nome,
Dos sonhos eu sou o amor.
Eu sou a dona de casa
Nos pegue-pagues do mundo;
Eu sou a mão do carrasco,
Sou raso, largo, profundo.
Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!
Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão;
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão.
Eu!
Mas eu sou o amargo da língua,
A mãe, o pai e o avô,
O filho que ainda não veio;
O início, o fim e o meio.
O início, o fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Eu sou o início,
O fim e o meio.
Gita: Raul Seixas/Paulo Coelho
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