domingo, 14 de dezembro de 2014

Os olhos veem sem ver...

Quando te quero ver, cerro as pálpebras e, 
Concentrando a visão, fico a pensar em ti.
Aos olhos vem-me assim, num sonho ingênuo e doce, 
A tua imagem fiel, como se viva fosse.

E eu sinto bem que és tu, que emerges do meu ser, 
Numa névoa fugaz, para eu te poder ver.

Névoa que se faz luz, sombra que se ilumina, 
Vens espiritualmente assomar à retina...

Surges no coração, onde hoje vives, pois 
Sobes ao pensamento e ao olhar vens depois.

Tens em tudo a expressão que no mundo tiveste, 
Tenha embora a beleza um encanto celeste.

Mas, em forma incorpórea, és tu mesma, porque 
Como te vi em vida a alma em sonho te vê.

E é tão viva a impressão que ninguém se persuade  
De que a vida se extinga, existindo a saudade...

Não pode ser engano a visão interior 
Que os olhos veem sem ver, por milagre do amor.

Quem sabe há no meu ser um espelho encantado, 
Onde indelével se reflete o meu passado!

Acaso há dentro em mim uma fonte de luz, 
Que a tua vida em minha vida reproduz!

É por isso, talvez, que em vago encantamento,  
Eu me deixo levar pelo meu pensamento.

E, se te quero ver, fecho os olhos e, então, 
Em silêncio me entrego a essa amada ilusão...

(Poesia: Da Costa e Silva - Foto: Carlos Diniz - Rio de Janeiro - RJ)

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