terça-feira, 6 de maio de 2014
Ser moça e bela ser
Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta?
Por que tudo o que tem de fresco e virgem gasta
E destrói? Por que atrás de uma vaga esperança
Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança
A voar, a voar?...
Também a borboleta
Mal rompe a ninfa, o estojo abrindo, ávida e inquieta,
As antenas agita, ensaia o voo, adeja;
O finíssimo pó das asas espaneja;
Pouco habituada à luz, a luz logo a embriaga;
Boia do Sol na morna e rutilante vaga;
Em grandes doses bebe o azul; tonta, espairece
No éter; voa em redor, vai e vem; sobe e desce;
Torna a subir e torna a descer; e ora gira
Contra as correntes do ar, ora, incauta, se atira
Contra o tojo e os sarçais; nas puas lancinantes
Em pedaços faz logo às asas cintilantes;
Da tênue escama de ouro os resquícios mesquinhos
Presos lhe vão ficando à ponta dos espinhos;
Uma porção de si deixa por onde passa,
E, enquanto há vida ainda, esvoaça, esvoaça,
Como um leve papel solto à mercê do vento;
Pousa aqui, voa além, até vir o momento
Em que de todo, enfim, se rasga e dilacera.
ó borboleta, pára! Ó mocidade, espera!
(Poesia: Raimundo Correa - Foto: Karoline Diniz - Teresina - Piauí)
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