sábado, 12 de janeiro de 2013
A flor e a fonte (Vicente de Carvalho)
“Deixa-me, fonte!”
Dizia a flor,
Tonta de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar.”
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
“Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu;
Ai, claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol;
Ai, festa das madrugadas
Doçuras do pôr-do-sol!”
“Carícia das brisas leves
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!...”
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor.
(Poesia: Vicente de Carvalho. Foto: Eliza Ribeiro – Taperoá – PB)
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